Um sextou bastante melancólico, para não dizer sombrio. O Ibovespa terminou o dia com queda de 1,14%, aos 125.946 pontos, uma perda de 1.450 pontos, levando o índice à sua segunda semana consecutiva no vermelho, com 0,67% (semana passada, menos 1,02%).
Nesta sexta-feira, o IBOV não só acompanhou a liquidação geral em Nova York, com os principais índices desmoronando, como foi fortemente impactado pelos ventos pessimistas de lá.
O dólar também sofreu, com sua terceira alta seguida, dessa vez com mais 0,61%, a R$ 5,12, mas chegou a romper os R$ 5,14, atingindo seu maior valor desde outubro de 2023. Os DIs (juros futuros) oscilaram, enquanto os Treasuries nos EUA caíram por toda a curva.
Ibovespa cai, com inflação americana em alta
“A inflação americana, que por sinal chegou acima do esperado, acabou levando a um forte movimento de aversão a risco global, desencadeando uma grande pressão sobre a moeda americana, fazendo-a disparar”, disse Márcio Riauba, gerente da Mesa de Operações da StoneX.
O peso sobre os mercados norte-americanos vieram especialmente dos primeiros resultados dos grandes bancos, que abriram a temporada de balanços do 1T24 hoje. O Citigroup, por exemplo, teve lucro de US$ 3,4 bilhões no primeiro trimestre, queda anual de 27%. JPMorgan (ação caiu mais de 5%) e Wells Fargo (caiu 1%) também apresentaram números e não empolgaram. O JPMorgan continuou a alertar os investidores que espera um ano “incerto” para os mercados e a economia global, citando a inflação teimosamente elevada e as tensões geopolíticas em curso. “Muitos indicadores econômicos continuam favoráveis. No entanto, olhando para o futuro, permanecemos alertas para uma série de forças incertas significativas”, disse o CEO do JPMorgan, Jamie Dimon, citando as guerras em Gaza e na Ucrânia, bem como outras questões geopolíticas, elevados gastos governamentais em todo o mundo e “persistentes pressões inflacionárias”. O momento levou a uma corrida à renda fixa.
“Com a inflação ainda acima de 2% e o mercado de trabalho ainda apertado, é apropriado que a política monetária permaneça restritiva”, disse hoje o. presidente do Federal Reserve de Kansas City, Jeff Schmid. Já o presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, alerta que a “instabilidade no Oriente Médio é um coringa em termos de preços de petróleo e gás; um choque negativo de fornecimento não é bom”.
Apesar de todo esse cenário, na análise de Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos, o movimento dos últimos dias no Ibovespa reflete uma tendência mais ampla de estabilidade. “Se a gente olhar as últimas doze semanas do Ibovespa, é aquele Ibovespa que não foi para lado nenhum”, afirmou. “Ficou na média dos 128 mil pontos, hora acima, hora abaixo, porém sem nenhum aspecto positivo de mudança de fato de direção”.
A visão otimista, porém, não encontrou apoio nesta sexta, diante de uma Wall Street que parecia terra arrasada com temores de uma inflação mais alta. “Você está vendo que há uma fuga para aquelas negociações mais seguras, com o dólar mais forte, e estamos vendo as ações serem vendidas”, disse à CNBC Rob Haworth, estrategista sênior de investimentos do U.S. Bank Wealth Management. “Isso vem na esteira dos dados de inflação que nos dizem que a economia ainda está bastante aquecida e que a inflação está pegajosa; foi isso que levou [os investidores] a realmente ajustarem as suas expectativas em torno do Fed. É por isso que eles estão ficando cautelosos neste fim da semana”.
Só 6 ativos do Ibovespa hoje subiram
Assim, apenas seis ativos terminaram a sessão no positivo, com liderança da PRIO (PRIO3), que avançou 2,13%, com decisão arbitral favorável no campo de Wahoo, e na esteira da alta do petróleo, apesar do alerta a AIE, que diz que a demanda por petróleo deve desacelerar ainda mais em 2025. Eletrobras (ELET3) subiu 0,46% e recuperou uma pequena parte da forte perda de ontem.
O resto, só queda. Vale (VALE3) caiu 0,37%, depois de se sustentar em boa parte da sessão no campo positivo, impulsionada pela alta do minério de ferro, o que claramente não foi suficiente neste dia de liquidação geral. Petrobras (PETR4) desandou 0,92%, em mais um dia de confusão na administração, com o presidente do Conselho sendo destituído pela Justiça e com a volta da questão dos dividendos extras.
Os grandes bancos brasileiros foram fortemente contaminados pela performance dos pares lá fora e recuaram aqui: Bradesco (BBDC4) caiu 1,25% e Itaú Unibanco (ITUB4) perdeu 1,04%. O setor teve grande influência no recuo o IBOV hoje. Assim como Azul (AZUL4), que despencou 10,07%.
O sextou sombrio de hoje teve ainda o agravante do recuo do setor de Serviços no Brasil, com queda de 0,9% em fevereiro. Não há o que comemorar hoje. O negócio é esperar e torcer por uma segunda-feira melhor. (Fernando Augusto Lopes)